“Eu fiz minha filha pagar por um erro que era meu”, diz mulher que foi presa grávida
Andresa teve a filha na cadeia e permaneceu com a bebê até os seis meses
Andresa Augusto Ruiz, de 46 anos, foi presa grávida de três meses e permaneceu durante toda a gestação na cadeia. Ela ficou com o bebê até os seis meses de idade. “Quando faltava um mês pra eu me separar da minha filha, ganhei a prisão domiciliar e fomos pra casa juntas. Eu fiz minha filha pagar por um erro que era meu e isso me fez me arrepender de tudo o que fiz e sair do mundo do crime. Fiquei presa pela primeira vez por 7 anos e da segunda vez, tô presa desde 2017 em prisão domiciliar, por tráfico de drogas”, conta Andresa. Laura nasceu de parto normal na zona norte de São Paulo, sob a fiscalização de duas agentes, em 2017. Era a sexta filha de Andresa. Após o parto, mãe e filha voltaram para a Penitenciária Feminina quando a bebê tinha apenas dois dias de vida. Dormiam numa cela só para elas, com berço e água quente no chuveiro.
“O crime não compensa”
Aos 15 anos, após seu pai morrer, Ruiz entrou para o mundo do crime. Parou de estudar na oitava série do ensino fundamental e começou a traficar. “Conheci o pessoal da favela e comecei a me envolver. Usei maconha, cigarros e bebidas. Com 18 comecei a usar cocaína e com 20 usei crack. Tive uma infância boa, meus pais sempre foram presentes e eram funcionários públicos, tenho dois irmãos, que sempre me ajudaram, mas eu gostava de dinheiro e naquela época o tráfico dava muita grana. O dinheiro me seduzia. Eu era gananciosa e não consumia a droga que vendia”, lembra.
A primeira prisão aconteceu quando Andressa usava crack em um hotel da Cracolândia, região central de São Paulo, mas hoje, já faz 10 anos que não consome drogas. Segundo ela, a polícia chegou ao local e prendeu todos que estavam lá. Na segunda vez, quatro anos depois de deixar a prisão, foi presa no ponto de tráfico que vendia drogas, grávida.
“A saudades dos meus filhos foi o meu pior castigo”
Da primeira vez em que foi presa, aos 24 anos, Andresa conseguiu terminar a escola, fez curso de cabeleireiro, inglês, digitação e trabalhava numa empresa de reciclagem. “Além de reduzir minha pena e ir para minha ficha, cabeça vazia é oficina do diabo”, diz. Enquanto estava presa, seus dois filhos mais velhos ficaram com a irmã dela e os dois mais novos foram entregues para o abrigo, onde ficaram sete anos e depois foram adotados. “A lei diz que se tem irmão, tem que adotar todos, então o casal que demonstrou interesse em um dos meus filhos, teve que levar os dois que estavam no abrigo”, conta.
Quando saiu da prisão, Andresa conseguiu a guarda da filha. “Hoje, a menina mora comigo. Na época que sai da cadeia, arrumei um emprego e consegui a guarda dela de volta. Meus filhos são minha fortaleza”. Quando esteve na cadeia, Andresa nunca viu os filhos e recebia a visita da mãe e da irmã.
Ruiz conta que todos os dias que estava presa, pensava nos filhos. “Se separar de um filho é muito duro. Você tem que deixar eles nas mãos das pessoas e confiar que vai ficar tudo bem. Graças a Deus eu reencontrei meu filho que foi adotado. Quando eu saí da cadeia, fui buscar os dois no abrigo, mas só tava a menina. Os dois foram adotados, mas a menina preferiu voltar pro abrigo. Depois, o menino mesmo me procurou através das redes sociais”.
“Só volta para o crime quem não dá valor para sua vida”
Mãe de 7 filhos, um de 27, outro de 25, e ainda de 18, 17, 8, 6 e 5 anos, Andresa relembra da época que foi usuária de drogas. “Minha história é uma superação. Desde que eu parei de fumar crack. Usei por 12 anos e agora faz sete anos que não fumo nem bebo nada. Me envolvi no crime por burrice, mas eu acredito que tudo tem um propósito. Hoje eu vivo em paz, sempre olhando pra frente. Temos que andar com os bons para ser um deles”.
Durante a gestação de sua sexta filha, Andresa lembra dos momentos marcantes que passou na cadeia. “A gente vai dar à luz num hospital público e volta pra cadeia. Cada mãezinha fica com seu filho no quarto o tempo todo. Se o bebê fica doente ou se tem que tomar vacina, os funcionários do presídio saem com ele. Foi um período de sabedoria, pois eu enxerguei que o crime não compensa. Eu pedia pra Deus uma nova chance e eu sabia que tinha errado, mas só queria sair com minha filha. A partir do momento que eu fui presa, desestruturei minha família e cada um dos meus filhos foi pra um canto por minha causa”, relata. Depois de 20 anos na criminalidade, Andresa deixou a cadeia pela última vez em 2017 e conheceu o Responsa, projeto que ajuda a reinserir ex-presos no mercado de trabalho. Hoje ela trabalha em uma confecção e diz que antes de conhecer o projeto não conseguia oportunidades por ser egressa. Segundo ela, o registro na carteira de trabalho é a sua maior vitória.